Fonte: PDL
A saga familiar marcada pela decadência é um gênero consagrado no romance ocidental moderno. A primeira originalidade deste livro, com relação ao gênero, é sua brevidade. As sagas familiares são geralmente espraiadas em vários volumes; aqui, ela se concentra em duzentas páginas. Outra originalidade é sua estrutura narrativa. A ordem lógica e cronológica habitual do gênero é embaralhada, por se tratar de uma memória desfalecente, repetitiva, mas contraditória, obsessiva, mas esburacada.
A saga familiar marcada pela decadência é um gênero consagrado no romance ocidental moderno. A primeira originalidade deste livro, com relação ao gênero, é sua brevidade. As sagas familiares são geralmente espraiadas em vários volumes; aqui, ela se concentra em duzentas páginas. Outra originalidade é sua estrutura narrativa. A ordem lógica e cronológica habitual do gênero é embaralhada, por se tratar de uma memória desfalecente, repetitiva, mas contraditória, obsessiva, mas esburacada.
O texto é construído de maneira primorosa, no plano narrativo como no plano do estilo. A fala desarticulada do ancião, ao mesmo tempo em que preenche uma função de verossimilhança, cria dúvidas e suspenses que prendem o leitor. O discurso da personagem parece espontâneo, mas o escritor domina com mão firme as associações livres, as falsidades e os não-ditos, de modo que o leitor vai reconstruindo os acontecimentos e pode ler nas entrelinhas, partilhando a ironia do autor, verdades que a personagem não consegue enfrentar. Em suas leves variantes, as lembranças obsessivas revelam sutilezas ideológicas e psíquicas.
Tudo, neste texto, é conciso e preciso. Nenhum elemento é supérfluo. Percorre todo o relato, como um baixo contínuo, a paixão mal vivida e mal compreendida do narrador por uma mulher. Os traços e gestos de Matilde, ao mesmo tempo em que determinam a paixão do marido, ocasionam a infelicidade de ambos. Embora vista de forma indireta e em breves flashes, Matilde se torna, também para o leitor, inesquecível.
Tudo, neste texto, é conciso e preciso. Nenhum elemento é supérfluo. Percorre todo o relato, como um baixo contínuo, a paixão mal vivida e mal compreendida do narrador por uma mulher. Os traços e gestos de Matilde, ao mesmo tempo em que determinam a paixão do marido, ocasionam a infelicidade de ambos. Embora vista de forma indireta e em breves flashes, Matilde se torna, também para o leitor, inesquecível.
Outras figuras, fixadas a partir de mínimos traços, também se sustentam como personagens consistentes. É espantoso como tantas personagens conseguem vida própria em tão pouco espaço textual. Leite derramado é obra de um escritor em plena posse de seu talento e de sua linguagem. Texto: LEYLA PERRONE-MOISÉS
Concordo plenamente, a essência do livro está nas entrelinhas e nesta obra nenhum elemento é supérfluo.
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